domingo, 17 de abril de 2016

As Criaturas Mais Temidas da Idade Média - Blemmyae

   Na Idade Média(476 d.c-1500), muitas lendas sobre terríveis monstros e criaturas se popularizaram entre os camponeses, guerreiros e até mesmo entre os membros das cortes burguesas.
   Histórias sobre as mais diversas criaturas eram contadas nas tavernas, pela boca de guerreiros, bêbados ou mesmo pelas poéticas canções cantadas pelos Bardos.

Blemmyae


   Os Blemmyae, também chamados de Akephaloi (os sem cabeça), ou Sternophthalmoi (olhos no peito), são uma mítica tribo nômade de homens sem cabeça que teriam vivido -segundo Heródoto em sua grande obra História- em algum lugar da antiga Libya (noroeste da África).


   Os Blemmyae possuíam uma aparência muito peculiar, diferente de qualquer outra criatura mitológica. Segundo os historiadores, os Blemmyae eram homens que não possuíam cabeças e seus olhos ficavam próximos a seus ombros, e suas bocas ficavam no meio de seus peitos. A boca dos Blemmyae era muitas vezes descrita como algo similar a um buraco arredondado e escuro.








Pirâmides de Moroë (Sudão)
Estrabo numa gravura do século XVI
   O geógrafo grego Estrabo descreveu os Blemmyae como sendo uma pacífica tribo de homens sem cabeça que viviam ao leste de um deserto próximo à Moroë. Uma pacífica tribo de homens sem cabeça...




   A tribo dos Blemmyae supostamente existiu desde os anos 600 A.C até cerca do século VIII D.C. Durante muito tempo os Blemmyae viveram de maneira totalmente pacífica, preocupando-se apenas com sua própria sobrevivência, mas isso mudou a partir do século III. Em meados dos anos 190 D.C, Gaius Pescennius Niger (Usurpador do Império Romano), teria clamado por ajuda ao então rei Blemmyae de Thebas para atacar e usurpar o trono do imperador romano Septimus Severus. Eles tiveram sucesso e Gaius Pescennius Niger governou por cerca de um ano, até ser morto.
   Após o ataque no final do século II, os Blemmyae teriam ganhado reputação e a partir do século III o seu poder cultural e militar cresceu fortemente, e graças a isso eles voltaram a batalhar contra os romanos várias vezes.

Detalhe do canto inferior esquerdo da tapeçaria chamada "The Legend Of Alexander, The Great", mostrando o que supostamente teria sido uma batalha entre Alexandre o Grande contra os Blemmyae.

Supostas batalhas

   Como dito anteriormente, os Blemmyae supostamente teriam lutado dezenas de vezes contra os romanos e até mesmo contra os egípcios.
A seguir trago tópicos mostrando as mais importantes entre essas batalhas:

  - Em 250 D.C os Blemmyae teriam tentado invadir o Império Romano novamente e o então imperador Décio teve de se esforçar para deter a invasão (O imperador Décio faleceu no ano seguinte).
   - Em 253 eles atacaram os egípcios, mas foram rapidamente derrotados.
   - Em 265 os Blemmyae voltaram a ser derrotados, dessa vez pelo líder romano Firmus.
   - Mais tarde, em 273, o próprio Firmus, que outrora derrotara os Blemmyae, os convocou para participarem de uma rebelião contra a rainha de Palmira (Síria), Zenóbia.
Foto das ruínas de Palmira(2015)
   Mais guerras aconteceram até o ano de 298, quando o então imperador romano Gaius Aurélios Valérius Diocletianus conseguiu firmar um acordo de paz com os Blemmyae, no qual os romanos teriam livre acesso para transitar pelas bordas de seu território e em troca eles pagariam uma taxa anual em ouro aos Blemmyae.

   Os Blemmyae triam chegado a ocupar importantes regiões de Sudão, cidades como Faras, Kalabsha, Ballana e Aniba.

Presença Cultural

Blemmyaes no mapa-múndi de Hereford.
   Com o passar dos séculos, os Blemmyae ganharam cada vez mais espaço em representações artísticas e chegaram a fazer pequenas aparições em alguns livros.
   O que os tornou famosos, provavelmente, foi a sua aparição no mapa de Hereford, onde Richard de Haldingham (Assinante do mapa e possível pintor) retrata o mapa-múndi aos olhos medievais. Estima-se que o mapa tenha sido pintado entre os anos de 1276 a 1285, e nele podem ser vistas 420 cidades, 15 eventos bíblicos, 33 animais e plantas, 32 pessoas e 5 cenas da mitologia clássica.
   Dentre todos esses eventos podemos ver a presença dos misteriosos Blemmyae.

   As referências culturais aos Blemmyae foram feitas por grandes nomes, inclusive por Shakespeare em Otelo e em A Tempestade.
   Os Blemmyae voltaram a aparecer em alguns romances como em "The Amazing Voyage of Azzam" (2000), de Kelly Godel -Assistam o book trailer dessa porra, é o altismo encarnado"The Blemmyes Stratagem" (2005), de Bruce Sterling, também em "The Monstrumologist" (2009), de Rick Yancey, mas, na minha opinião, a melhor aparição dos Blemmyae na cultura moderna foi no episódio 22 da primeira temporada de Scooby Doo "The Headless Horror".
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Aparição de um Blemmyae em Scooby Doo - The Headless Horror

Conclusão

   É difícil fazer qualquer afirmação realmente precisa sobre os Blemmyae, pois não se sabe muito sobre eles. A medida que lemos sobre o assunto temos a impressão de que os Blemmyae, que deveriam ser apenas mais um monstro nos bestiários medievais, possam sim ter existido e terem participado de eventos históricos importantes, todavia, não há nada que realmente prove a existência de humanoides sem cabeça. Os registros feitos por Heródoto e por Plínio, o Velho, são de grande importância para a história, mas nada impede que a expressão "homens sem cabeça" tenha sido mal interpretada e o que, provavelmente, foi uma forte tribo nativa daquela região, acabou sendo mistificada e dando origem a todos os mitos e contos sobre os Blemmyae.


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