quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Mitologia Azteca - Quetzalcóatl

   A mitologia Azteca é realmente fascinante e enigmática, principalmente por ser uma mitologia que cria laços estreitos entre mito e história! Assim como em outras mitologias, nela é contada o processo de criação do mundo, porém, quando observada com um olhar mais crítico, pode-se apreciar uma grande obra épica que nos conta a jornada de um povo nômade tentando se estabelecer e formar uma civilização próspera.
   Nessa matéria, veremos o processo de criação da humanidade pela perspectiva de Quetzalcóatl, o deus criador, protetor e civilizador da humanidade.
Imagem de Quetzalcóatl caminhando entre seu povo - History Channel: O Confronto dos Deuses - Quetzalcóatl.
   Quetzalcóatl, a Serpente Emplumada, era o mais novo entre os quatro deuses primordiais. Ele teria sido o mais valoroso, fiel, determinado e honrado guerreiro entre os deuses, o que causava orgulho em seu pai e discórdia entre seus irmãos.
   Quetzalcóatl enfrentou um árduo caminho em sua ascensão; tornou-se o mais poderoso e importante deus do panteão e deu a luz à humanidade, sua história conta com muitas aventuras, batalhas e desafios desde sua ascensão até sua queda.
    Antes de falarmos sobre a mitologia, precisamos entender um pouco sobre o povo Azteca e sobre a região da Mesoamérica.

Os Aztecas e a Mesoamérica

   Mesoamérica é o termo pelo qual era chamada uma determinada região da América-Central, berço de várias das mais avançadas civilizações de toda à América medieval. Para maior entendimento, segue uma imagem mostrando a localização atual do território mesoamericano:
Mapa mostrando a região atual da Mesoamérica.
   A jornada dos povos aztecas começa no sudoeste dos Estados Unidos, em uma região chamada Aztlán, da qual se originou o termo "Azteca", que no idioma náuatle significa "Povo de Aztlán". Eles vieram de uma longa e lenta migração. Eles viviam como nômades e deveriam partir para o sul para encontrarem sua "terra prometida", onde deveriam fundar sua cidade para que pudessem nela prosperar. De acordo com a lenda, eles reconheceriam o local quando vissem uma águia empoleirada num cacto, comendo uma serpente. A profecia se cumpriu quando chegaram à uma ilha no lago Texcoco, e ali fundaram sua cidade, Tenochtitlán (Atual Cidade do México).
   Os Aztecas começaram sua vida na região com certas dificuldades; por serem um povo nômade, não estavam habituados a agricultura. Eles foram o último dos povos a migrarem para região, porém sua riqueza cultural, mitológica e habilidades de combate lhes forneceram grande influência sobre os demais povos que habitavam a região. Por volta do século XV D.C, os Aztecas firmaram uma aliança com duas grandes tribos: os Acolhuas, da cidade de Texcoco e os Tepanecas, da cidade Tlacopan. Unidos, deram origem à Tríplice Aliança Azteca (em náuatle: Ēxcān Tlahtōlōyān), o que conhecemos hoje por Império Azteca.
Ilustração de Tenochtitlán.

   É neste ponto que a história e o mito começam a se entrelaçar. A cidade de Tenochtitlán, capital do Império Azteca, foi fundada em março de 1325 D.C, porém o mistério ronda em torno de uma cidade muito mais antiga: Teotihuacán. 
   Localizada à cerca de 40 quilômetros à noroeste de Tenochtitlán (atual Cidade do México), Teotihuacán já estava de pé quando os Aztecas chegaram à Mesoamérica. A cidade ocupava um perímetro de 80 quilômetros quadrados e tinha uma localização muito estratégica, sendo banhada por nascentes e locais de extração de argila e obsidiana (rocha ígnea ou vidro vulcânico nativo da região, muito utilizado na confecção de ferramentas cortantes).
Teotihuacán atualmente.

   Há registros de que a cidade tenha sido fundada por volta do ano 100 A.C, contudo os registros apontam que as primeiras civilizações tenham iniciado sua construção por volta do ano 600 A.C. É possível que os Aztecas tenham se inspirado em sua arquitetura e organização brilhantes para fundar Tenochtitlán. 
   Por volta do século III, Teotihuacán já possuía uma população de mais de 125 mil habitantes, sendo a maior cidade da Mesoamérica e, possivelmente, uma das maiores cidades do mundo.
   Mesmo sendo uma cidade tão antiga, Teotihuacán exibia incríveis construções, sendo as mais notáveis: A pirâmides do Sol e a pirâmide da Lua, entre as quais pode-se observar um belo nascer do sol. Os Aztecas acreditavam que os deuses haviam fundado e vivido em Teotihuacán. Além das duas grandes pirâmides, a cidade exibia vários templos religiosos, como o grande templo de Quetzalcóatl e o grande templo do Jaguar (Tezcatlipoca). Era conhecida por ser um centro comercial e religioso importante. Por volta do século VIII a cidade entrou em uma misteriosa decadência que afetou todos os povos que dela dependiam, inclusive grandes civilizações, como os próprios Maias.
Foto da pirâmide do Sol.

   Algumas teorias apontam que Quetzalcóatl e os demais deuses criadores seriam aliens que teriam ajudado os povos nativos a erguerem as construções. Por outro lado, teorias defendidas pelos Mórmons apontam que Quetzalcóatl seria o próprio Jesus Cristo, em sua evangelização nas Américas. Mas esses são temas para um outro post.
Ilustração mostrando o que seriam os aliens, provavelmente retirando os Aztecas de Teotihuacán, o que explicaria o abandono da cidade.

   Aqui podemos apreciar um forte laço entre história e mitologia, não sabemos como as religiões de povos tão distantes puderam se entrelaçar. É difícil dizer que os Aztecas teriam se engajado a cultura local, pois diante dos fatos históricos, foram eles quem influenciaram os nativos, pois possuíam superioridade cultural e política, fator que contribuiu também para que os povos vizinhos fossem facilmente dominados. Com isso, temos evidências de que os traços da religião Azteca já estavam presentes na Mesoamérica antes mesmo dos próprios Aztecas chegarem a região, contudo, seguindo os passos da mitologia, podemos cogitar a ideia de que no passado os Aztecas tenham tentado se estabelecer na região outras quatro vezes, sem sucesso, como veremos adiante.


O Mito da Criação

   A mitologia Azteca percorre um caminho épico desde a criação da humanidade, sua civilização e decadência de seu povo. Começaremos agora a viagem por esse trajeto que em muitas maneiras se confunde e se entrelaça entre mito e história.
   No princípio existia apenas Tonacatecuhtli, o deus da criação, que, segundo a mitologia, teria soprado para dividir o céu e a terra, e assim dado origem ao universo e tudo que há nele; nesse ponto, nosso planeta era um completo caos, pois não havia separação entre os elementos. Desse sopro criador surgiram seus primeiros quatro filhos, os deuses primordiais: Tezcatlipoca (deus do sol, também conhecido como Ocelotl, O Jaguar), Tlaloc (deus das tormentas), Chalchiuhtlicue (deusa das águas tranquilas) e por fim surgiu Quetzalcóatl, A Serpente Emplumada (deus dos ventos e raios, protetor da humanidade).
Tezcatlipoca, desenho tradicional.
   Ao dividir o universo e dar origem ao seus filhos, Tonacatecuhtli decidiu dar a eles a missão de concluir a criação do cosmos e dar origem à vida na Terra. A partir desse ponto, Tonacatecuhtli se torna uma espécie de deus ocioso, subindo ao mais alto dos céus e praticamente não voltando a influenciar no processo de criação.
   A primeira tarefa foi dada a Quetzalcóatl e a seu irmão mais velho, Tezcatlipoca. Eles receberam a ordem de eliminar uma antiga deusa chamada Cipactli. Ela era a única forma de vida existente nos caóticos oceanos da Terra. Cipactli era uma fera colossal, sua aparência lembrava a de um dragão marinho, ou um crocodilo. Os deuses precisavam encontrar uma maneira de atrair e emboscar Cipactli, matando-a antes que ela pudesse reagir. Não seria uma tarefa fácil, mas Quetzalcóatl teve uma ideia ousada, que exigiria um sacrifício por parte de um dos irmãos; Quetzalcóatl sugeriu que um deles decepasse o próprio pé para usa-lo como isca.
Ilustração tradicional de Cipactli.
Tezcatlipoca não perdeu a oportunidade de mostrar sua coragem e seguiu o comando do irmão mais novo, e sacrificou o próprio pé. Não demorou muito até Cipactli aparecer, e a besta não resistiria ao sangue de um deus. Quando Cipactli emergiu, Quetzalcóatl e Tezcatlipoca pularam sobre a besta e a golpearam várias vezes com seus Macuahuitl (Clavas de madeira com várias lâminas de obsidiana em suas laterais) até levá-la à morte.
Foto de dois Macuahuitl.
   Após matarem Cipactli, os irmãos a dividiram, e de sua parte inferior criaram a terra firme sobre os oceanos, de sua parte superior criaram os céus; usaram as quatro patas da besta para criar os pilares: norte, sul, leste e oeste, para que estes sustentassem o céu, de modo que céu e terra jamais voltassem a se tocar.
   A primeira tarefa havia sido cumprida, e a terra havia se firmado a partir do primeiro sacrifício de sangue. Os irmãos foram até seu pai, Tonacatecuhtli, para lhe comunicar de seu sucesso. O deus soberano ficou muito satisfeito com o progresso de seus filhos e disse a eles que agora deveriam ser criados novos deuses, mas que ele próprio o faria.
   Tonacatecuhtli enviou uma colossal faca de rocha, que rasgou o céu e se chocou contra a terra ao cair; a rocha se quebrou e dela surgiram centenas de deuses (muitas vezes são usados números simbólicos como 1600 ou 400, que são múltiplos do número base, 4, que representa os quatro primeiros deuses. Esses números vem para representar a ideia de "inúmeros, ou muitíssimos" deuses).
   Então Tonacatecuhtli deu a seus filhos uma nova missão: eles passariam a ser responsáveis pela criação da humanidade. Para isso, Tonacatecuhtli os deu uma bacia com "os ossos dos homens de uma outra era". Agora seria iniciada a mais árdua missão dos deuses.
Ilustração de Quetzalcóatl, feita aos moldes tradicionais.
   As opiniões começaram a se dividir entre os deuses, mas a palavra de Quetzalcóatl se sobressaía, pois este já havia se provado um grande líder. Ele convocou seus irmãos para se reunirem na já existente cidade de Teotihuacán. Com os deuses reunidos, Quetzalcóatl anunciou que havia percebido que antes de criar os homens, precisavam criar um sol que os iluminassem e regesse seu dia. E ali eles decidiram quem ocuparia esse papel.
   O primeiro sol foi Chalchiuhtlicue. A deusa subiu ao céus e iluminou a terra, os deuses começaram então a criação do homem. Os primeiros humanos foram feitos de barro, mas foram mal moldados e eram muito pequenos, então os o deuses os transformaram em peixes. A primeira tentativa foi um fracasso, mas os deuses não desistiram.
Ilustração moderna de Chalchiuhtlicue
   Ocelotl, o Jaguar (personificação de Tezcatlipoca), subiu ao céu, e se tornou o segundo sol e iluminou a Terra. Os deuses novamente moldaram os homens a partir do barro, contudo estes foram feitos grandes demais, eram desengonçados; quando caíam, os homens se destruíam; e de seus restos se originaram as montanhas, os vales e tudo que há neles. Segunda tentativa, segundo fracasso.
   Ehecatl, deus dos ventos (personificação de Quetzalcóatl), foi o terceiro sol que iluminou a Terra para a nova criação. Dessa vez, os homens foram feitos de milho, mas os deuses os fizeram perfeitos demais, e eles não queriam render culto aos seus criadores. Os deuses se desfizeram deles, os transformando em macacos. E mais uma vez, os deuses falharam.
   Por fim, Tlaloc decidiu iluminar a Terra para a criação dos homens, e assim foi feito. Mais uma vez, os deuses fizeram o homem de milho, mas agora deram a eles um coração, contudo o coração dado aos homens era grande demais e eles se tornaram bondosos demais, sendo totalmente improdutivos. Para dar fim a esses homens, os deuses os transformaram em perus. Foi a quarta tentativa e quarta falha dos deuses ao criar a humanidade.
Ilustração tradicional de Tlaloc.
   Os deuses estavam cansados de fracassar e decidiram enviar os ossos sagrados para o submundo, um lugar chamado Mictlan, e assim o fizeram. Eles entregaram os ossos ao senhor do submundo, Mictlantecuhtli, para que ele os guardasse nas profundezas, para que impedisse os deuses de caírem em tentação e tentarem novamente criar a humanidade. Mas essa decisão foi tomada por apenas três dos deuses, pois Quetzalcóatl não estava de acordo e não aceitaria desistir e dizer a seu pai que havia falhado.
    Mesmo contra a vontade de seus irmãos, Quetzalcóatl desceu às profundezas do Mictlan enfrentando diversos desafios para alcançar seu objetivo. Ao chegar nos aposentos de Mictlantecuhtli, Quetzalcóatl pediu ao deus da morte que lhe entregasse os ossos sagrados, mas ele só cederia ao pedido com a condição de que Quetzalcóatl deveria enfrentar um desafio, Mictlantecuhtli lhe entregou um enorme caracol sem furos e disse a Quetzalcóatl que ele deveria o soprar e fazer som, e se conseguisse, os ossos seriam seus. A Serpente Emplumada soprou, mas não produziu qualquer som, pois não haviam furos no caracol, então ele pediu ajuda aos animais, primeiro vieram os vermes que perfuraram o caracol, então vieram as abelhas, que entraram pelos furos e produziram um som. Quetzalcóatl havia passado na prova de Mictlantecuhtli, e este o entregou os ossos sagrados.
Ilustração moderna do Mictlan.

   Agora restava ao deus dos ventos a prova de sair do Mictlan, enfrentando novamente vários desafios. Quando Quetzalcóatl estava próximo à saída, o deus da morte, Mictlantecuhtli, se enfureceu com a derrota e tramou para detê-lo, e enviou vários deuses menores para persegui-lo. Quetzalcóatl estava determinado e conseguiu escapar de seus lacaios. Quando ele estava prestes a escapar do Mictlan, Mictlantecuhtli mandou que abrissem um enorme buraco e enviou codornas para atacar a Serpente Emplumada, o distraindo e fazendo-o cair em sua armadilha. A queda foi fatal, mas na posição de deus, Quetzalcóatl logo renasceria.
Mictlantecuhtli
   Quando o deus renasceu, ele percebeu que a queda havia esmagado os ossos sagrados, mas se nem a morte pôde detê-lo, não seria isso que o faria desistir. Quetzalcóatl pegou todos os fragmentos de ossos e os juntou na bacia, continuou sua caminhada e saiu do Mictlan. Ele havia retornado ao mundo dos vivos e estava determinado a criar a humanidade, mas dessa vez ele faria sozinho.
   Quetzalcóatl subiu até seu pai e lhe apresentou os ossos quebrados, Tonacatecuhtli disse a seu filho que, para criar o quinto sol e dar origem a humanidade, seria necessário que terminassem de quebrar os os ossos, fazendo deles um pó, e então fosse feito um novo sacrifício de sangue. Quetzalcóatl o fez, e ele sangrou seu membro viril faca na mandioca, poar, e de seu sangue, unido ao pó dos ossos, ele modelou os homens dessa era, criando assim o homem de milho, o Mexica (daí o nome México). Assim o deus fez surgir o quinto sol, e junto a ele, uma nova humanidade. Dessa vez os homens eram diferentes um do outro, pois os ossos se misturaram, e assim foram feitos os homens, gordos, magros, altos e baixos, diferentes uns dos outros, mas em harmonia entre si e com os deuses.
   Quetzalcóatl estava muito feliz por ter criado a humanidade e faria de tudo para que eles sobrevivessem, e para isso ele voltou ao submundo para recuperar o alimento sagrado, o milho. E foi realmente o cultivo do milho que possibilitou aos Aztecas a criação de uma civilização e de um império próspero. Por isso Quetzalcóatl é considerado um grande civilizador, por ter ensinado aos homens o cultivo do milho.
Ilustração moderna de Quetzalcóatl
   Quetzalcóatl agora daria moradia a seus filhos, foi então que o deus fundou a cidade de Tula. A cidade era paradisíaca e possuía todas as belezas e riquezas que o mundo mesoamericano poderia imaginar. Para muitos estudiosos a cidade é apenas uma idealização. Já para arqueólogos e antropólogos, a cidade realmente existiu e se localizava próxima a Tenochtitlán. De acordo com a doutora Diana Magaloni, Diretora do Museu Nacional de Antropologia do México, existe a possibilidade de que Tula tenha sido a própria cidade de Teotihuacán.

O Reinado e Queda de Quetzalcóatl

   Nesse ponto as coisas se confundem ainda mais, surgem perguntas intrigantes, não sabemos se Quetzalcóatl foi mesmo um deus, um rei, um civilizador ou todos juntos.
   Enquanto rei, Quetzalcóatl procurava fazer de tudo por sua criação, sendo consagrado como o mais poderoso e importante deus do panteão. Ele era o modelo que os humanos deveriam seguir, e suas ações eram louvadas pelos deuses e pelos homens. Entretanto, as atividades de Quetzalcóatl não eram bem vistas por alguns deuses, principalmente por seu irmão mais velho, Tezcatlipoca.
   O Jaguar tinha muita inveja de seu irmão, seus problemas de relacionamento haviam começado muito antes da ascensão da Serpente Emplumada. Tezcatlipoca vinha cultivando o ódio por seu irmão desde o momento em que haviam matado Cipactli, pois havia sido ele quem sacrificou seu pé para matar a besta, mas o crédito foi quase todo para o grande exemplo de liderança dado por Quetzalcóatl.
Ilustração de um confronto entre Quetzalcóatl e Tezcatlipoca

   Tezcatlipoca era muito temido pelos homens e a ele eram oferecidos sacrifícios humanos com muita frequência, centenas em um só dia não eram incomuns. Segundo ele, a terra havia sido criada pelo sacrifício de sangue, e por isso precisava ser banhada em sangue para que pudesse se manter fértil. Temendo a ira de Tezcatlipoca, os humanos frequentemente ofereciam sacrifícios a ele.
   Com o passar do tempo, Quetzalcóatl ficou compadecido pelos humanos e decidiu proibir os sacrifícios, alimentando a ira de seu irmão e dando a ele a oportunidade de um motim. A atitude de Quetzalcóatl gerou polêmica entre todos os deuses, mas ele se manteve firme em sua decisão, sempre visando o bem da humanidade.
Estatua de Quetzalcóatl
   Os sacrifícios eram oferecidos a terra e ao deus do sol, Tezcatlipoca, Os homens eram colocados em um altar, no topo das piramides, seu peito era aberto por uma faca e enquanto seu sangue escorria pela pirâmides, o sacerdote arrancava o coração do sacrifício e o erguia na direção do sol, em tributo a Tezcatlipoca.
   Defendendo sua posição, o Jaguar afirmou que parando os sacrifícios a terra entraria em decadência; desse modo o deus do Sol convenceu outros deuses a o ajudarem a destronar Quetzalcóatl. Não foi difícil para Tezcatlipoca convencer seus irmãos a participarem do motim, pois proibir os sacrifícios humanos era intolerável para a maioria deles, além de que a Serpente Emplumada já havia contradito a vontade dos deuses e voltado a tentar criar os humanos, e agora se dedicava mais aos humanos do que a sua família.
   Tezcatlipoca era um mestre dos feitiços e disfarces. Com a ajuda de seus irmãos, o deus do Sol se transformou em um ancião e preparou uma bebida para envenenar Quetzalcóatl. Uma especie de bebida alcoólica, preparada junto a alguns fungos alucinógenos, que potencializavam a embriagues.
   Com a vingança já arquitetada, Tezcatlipoca partiu para o palácio de Quetzalcóatl. Chegando lá, disfarçado de ancião, ele começou a conversar com o rei e o avisou sobre estar velho e cansado, e disse que trazia um remédio que iria cura-lo. Quetzalcóatl sofria como se fosse um humano, e reconheceu estar velho e fraco, afirmando ter ciência de que logo morreria. Mas o ancião não desistiu e continuou insistindo até que Quetzalcóatl aceitou um gole do remédio; de imediato ele sentiu um ótimo sabor e um calor subir pelo corpo, ao afirmar ter apreciado o presente, o ancião insistiu para que ele bebesse mais. Assim Quetzalcóatl continuou a beber, sentindo-se cada vez mais revigorado. O deus bebeu quatro doses (o número sagrado), e então entrou em um estado de euforia. A vingança de Tezcatlipoca estava correndo como planejado.
   Quetzalcóatl saiu para caminhar por Tula, ele estava completamente fora de si e ao longo de sua caminhada cometeu muitos atos dos quais se envergonharia mais tarde, tais como quebrar coisas, derrubar barracas de comerciantes e insultar as pessoas, mas o pior ainda estava por vir. Quetzalcóatl se sentia jovem de novo e acabou sentindo desejo sexual, se aproveitando da situação, Tezcatlipoca convenceu seu irmão a deitar-se com uma mulher. No dia seguinte, quando Quetzalcóatl acordou, percebeu que tinha dormido com sua irmã, Quetzalpetatl, a estrela preciosa. Sentindo vergonha do ato incestuoso e todas as demais atrocidades que havia cometido, Quetzalcóatl percebeu que havia quebrado todas as regras que ele mesmo impôs, contrariando toda uma vida de virtude e castidade que vinha levando. Ele sentiu que não era mais digno de governar os humanos e decidiu se exilar.
   O deus rei mandou que construíssem uma embarcação, que nos contos é tratada como uma serpente dourada, e então ele se despediu de seu povo, mas disse a eles que retornaria quando estivesse redimido. Antes de partir, Quetzalcóatl caminhou para longe, até o monte Coatépec, e de lá ele se virou e avistou sua cidade destruída, e ele chorou desesperado.
   Após ter seu ultimo contato com seu povo, Quetzalcóatl partiu em sua embarcação para o horizonte, na direção do nascer do sol, e quando o alcançou, ele se queimou numa pira sagrada e se tornou a estrela da manhã: Vênus.
   Com a queda de Quetzalcóatl, Tezcatlipoca deixou de ser o deus do Sol, passando a ser o deus das trevas, feitiçaria e doenças, sendo agora muito mais temido por seu povo.
Ilustração moderna de Tezcatlipoca Negro
   Contudo, a relação entre história e mito não havia acabado, a promessa feita por Quetzalcóatl, que antes foi a esperança de seu povo, no futuro se tornaria sua decadência.
   Os anos se passaram e os povos Aztecas continuavam a olhar para o horizonte diariamente, aguardando o retorno de seu deus. E um dia eles viram algo surgir nos mares. No começo do século XVI, os espanhóis, liderados por Hernán Cortés, chegaram a Mesoamérica. Por serem quase todos brancos, barbudos e de olhos claros (assim como era descrito Quetzalcóatl), o então imperador azteca, Moctezuma II, considerou que Cortés era a personificação de Quetzalcóatl, cumprindo sua promessa e retornando ao seu povo.
   Em 1519, Moctezuma II se aliou a Cortés, sem perceber o perigo que seu império corria. Em 1520 os Aztecas se rebelaram, seguindo o comando do sobrinho de Moctezuma II. Eles assassinaram o Imperador e iniciaram uma rebelião contra os invasores espanhóis. Mas no ano seguinte foram subjugados e o Império Azteca foi a ruína.
Ilustração de Hernán Cortés sendo recebido pelo imperador Moctezuma III

   E assim chega ao fim a história de Quetzalcóatl, um deus, um rei, um civilizador, que criou seu povo e acidentalmente causou sua ruína. Mas seu legado permanece vivo até os dias atuais, sendo tema principal de inúmeras pesquisas e estudos feitos por diversos profissionais.

Conclusão

   Na minha opinião, essa é uma das complexas e incríveis mitologias. Os Aztecas e suas crenças ainda guardam muitos mistérios, muitas perguntas sem respostas. Tudo isso acabou levando várias pessoas, de várias partes do mundo, a cogitarem várias hipóteses para "explicar os Aztecas e os acontecimentos da Mesoamérica". As conspirações envolvem desde extraterrestres até o próprio Jesus Cristo. Eu também tenho lá minhas teorias, mas não vou me aprofundar nisso agora. O fato é que em muitos casos o mito e a história tem ligações estreitas, tais como: A tal profecia da ave sobre o cacto comendo a serpente, os homens precisarem do milho para viver (sendo o milho o item que proporcionou a eles a estabilidade para criar seu império), a possibilidade de que Quetzalcóatl tenha sido um rei em Teotihuacán, e, por fim, a profecia de retorno feita por Quetzalcóatl ter sido o principal agente na dominação espanhola. E claro, se começarmos a observar podemos encontrar ainda mais informações, e mais mistérios também.
   Na cultura popular, Quetzalcóatl está sempre presente em inúmeros jogos e animações, ocidentais e orientais. Entre todas as suas aparições, a minha favorita é seu papel em Final Fantasy VIII, no game, Quetzalcóatl é um "Guardian Force" (uma espécie de deus primitivo), que utiliza poderes baseados em raios e ventos, sem contar com sua aparência incrível!
Quetzalcóatl em Final Fantasy VIII
   E vocês, o que acham dessa épica história? Deixe sua opinião ou teoria aí nos comentários!

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