segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Mitologia Nórdica - Lindworm

   A mitologia nórdica representa o conjunto de crenças populares e mitos provenientes dos povos escandinavos e germânicos da era pré-cristã. Muito da mitologia nórdica se perdeu com o tempo, pois era um comum àqueles povos que as tradições fossem passadas oralmente, pois não faziam uso da escrita ou das artes. Mas uma boa parte da mitologia nórdica foi recuperada no século XIII, quando foram escritas as Eddas em verso e em proza, ambas visavam recuperar a tradição oral nórdica e também formar novos poetas no estilo antigo.
Uma página antiga de uma das Eddas
   As Eddas são divididas em duas coletâneas distintas, conforme vemos abaixo:

  • Edda em Verso: Popularmente conhecida como Edda Poética, a Edda em verso é uma compilação de poemas épicos de autores desconhecidos, feita por eruditos que visavam recuperar a tradição oral.
  • Edda em Prosa: Popularmente conhecida como Edda Prosaica, a Edda em prosa foi escrita por um poeta guerreiro islandês chamado Snorri Sturluson, e conta com vários poemas e textos em prosa que relatam várias passagens da mitologia nórdica. Seu principal foco era recuperar a tradição oral e formar novos poetas no estilo nórdico antigo.
   Conhecer as Eddas é fundamental para estudar a mitologia nórdica, pois quase todo material que se tem sobre ela provem dessas duas coletânias de textos e poemas épicos. Agora que já temos os conceitos básicos sobre a mitologia nórdica, vamos saber tudo sobre os Lindworm, os dragões serpentários do norte!

Lindworm

Ilustração medieval de um Lindworm

   O Lindworm foi uma das criaturas mais temidas pelos povos escandinavos e germânicos. A maior parte das lendas locais, que se referiam a dragões e monstros maléficos, destacavam os vilões com as características de um Lindworm. A criatura é sempre descrita como um poderoso dragão serpentário que possuía duas patas, algumas vezes possuía asas. Assim como era destacado em algumas lendas como uma criatura racional, em outras era uma besta voraz.
   Apesar de estar no topo da lista de terrores dos povos nórdicos, o Lindworm era frequentemente encontrado em pinturas, brasões e até mesmo em ornamentos de embarcações. Ficou curioso? Então vamos saber mais sobre isso!

Características e Habilidades

   Existem inúmeras descrições de Lindworms na mitologia nórdica, mas, entre todas, a mais famosa descreve uma serpente gigantesca que possuía asas de dragão, um par de patas e cabeça de dragão. Outras descrições apontam que a criatura pode não ter patas, apenas asas e vice-versa.
Pintura de Marco Polo
   Uma das mais famosas descrições dessas criaturas foi feita pelo explorador italiano Marco Polo (1254-1324); segundo ele, durante uma expedição nos estepes da Ásia central, ele encontrou com uma imensa e aterrorizante criatura metade serpente e metade dragão, que possuía um par de patas dianteiras e uma boca tão grande que poderia engolir um humano da primeira bocada.
   Na maioria das vezes a criatura possuía um comportamento muito agressivo. As lendas descrevem que o Lindworm se alimenta se quase todo tipo de criatura viva, mas como na maioria das lendas, seu prato predileto é a carne humana. O Lindworm ataca qualquer humano que cruze seu caminho, sem muita discrição. Outras versões dessa lenda contam que a criatura pode possuir um comportamento menos destrutivo, e ser até mesmo racional; nesses casos o Lindworm costuma atacar túmulos e se alimentar dos cadáveres mais recentes.
   Avistar um Lindworm nem sempre é um mal sinal, pois, durante sua troca de pele, quando a criatura fica com a pele branca, ela recebe o nome de "Whiteworm", e avistá-los é, segundo as lendas, um sinal de boa sorte e prosperidade extremas. Essa crença existe pois o Lindworm fica mais fraco nesses períodos e costuma se esconder para se proteger, e, portanto, é muito raro encontra-los nessa fase, a ocasião é associada a boa fortuna. Além da boa sorte, se a pessoa que encontrar um Whiteworm conseguir tomar para si a pele trocada do animal, as lendas contam que essa pele é capaz de prover total conhecimento sobre a natureza e a medicina.
Ilustração medieval de um Lindworm

Origem do Mito

   Semelhante a mitologia celta, a maior parte da origem dos mitos nórdicos também é incerta, mas podemos apontar os relatos mais antigos sobre os Lindworm, como fonte da propagação da história. Vamos separar em tópicos alguns dos mitos mais antigos que envolvem essa criatura:

  • Nidhogg: O nome dessa criatura significa "devorador de cadáveres", e sua aparência é a de um Lindworm sem asas. As lendas contam que a criatura vive em Niflheim, o mudo dos portos, plano mais baixo da Yggdrasil, a árvore do mundo. Nighogg passa a maior parte de seu tempo roendo as raízes de Yggdrasil, na tentativa de destruir o mundo, e sua dieta se resume em devorar os mortos que são enviados a Niflheim.

  • Fafnir: O dragão Fafnir, do poema épico "A Canção dos Nibelungos", escrito no século XIII, é descrito como um Lindworm

  • Ragnar Lodbrok: A saga do semi-lendário Rei da Suécia e Dinamarca, Ragnar Lodbrok (traduz-se Ragnar das Calças Peludas, pois suas calças eram feitas de pele), conta que um rei dinamarquês chamado Herraud, deu de presente a sua filha, a princesa Thora Borgarhjort, um filhote de Lindworm que era tão pequeno que podia ser guardado em sua caixinha de joias. O tempo passou e o Lindworm cresceu e se tornou tão grande que seu corpo circulava todo o quarto da princesa. A criatura fez de Thora sua refém e como exigência para mantê-la viva, todos os dias o rei levava um boi para alimentar o Lindworm. Muitos guerreiros tentaram combater a criatura, mas todos falharam. Um dia, um jovem chamado Ragnar, que vestia calças feitas de pele, foi até o castelo e teve sucesso em abater a criatura. O trinfo lhe rendeu a mão da princesa Thora e o título de Ragnar Lodbrok.
Ilustração de August Malmstöm, representando Ragnar tomando a mão de Aslaug, após a mesma ter matado sua charada. Quem assisti Vikings vai manjar.

  • O Príncipe Lindworm: Segundo essa lenda, uma rainha sueca queria muito gerar filhos, mas era estéril; as lendas contam que ela encontrou uma bruxa boa que lhe ofereceu uma solução. Ela foi orientada pela bruxa a ir ao seu jardim ao amanhecer do dia seguinte, lá ela encontraria dois cavalos, um preto e um branco, se comece o cavalo branco, geraria uma menina, e se comece o preto, geraria um menino, mas que em hipótese alguma deveria comer os dois. No dia seguinte a rainha fez o orientado, mas foi tomada pelo desejo de gerar gêmeos, pois essa poderia ser sua única chance de ter filhos; movida por esse sentimento, a rainha comeu os dois cavalos. No dia do parto, nasceram gêmeos, um era um lindo homenzinho, e o outro era um filhote de Lindworm; a rainha criou o Lindworm em segredo, pois temia a reação popular. Quando os dois príncipes chegaram a fase a adulta, o homem decidiu se casar, mas quando saiu para procurar sua primeira noiva, foi impedido pelo terrível Lindworm, e a criatura lhe disse: "Primeiro uma noiva pra mim, depois pra você". Segundo as tradições, o filho mais velho deveria casar-se primeiro, e como a criatura havia nascido segundos antes de seu irmão, o rei se viu obrigado a conseguir uma esposa para a besta. Foram feitas inúmeras tentativas, mas em todas as noites de núpcias do Lindworm, ele se enfurecia e devorava sua esposa, até que uma jovem sueca que havia sido designada a casar com o Lindworm procurou ajuda de uma bruxa, que lhe orientou a vestir vinte peças de roupas na noite de núpcias e mandar que o Lindworm trocasse uma pela para cada peça de roupa que ela tirasse, e assim foi feito. Quando a jovem tirou sua última peça de roupa, o Lindworm trocou sua ultima pele, e por baixo da carcaça da serpente surgiu um belo príncipe.
A figura do Lindworm é frequentemente associada ao ouroboros

  • O Lindworm de Klagenfurt: Essa é uma lenda alemã, na qual a cidade de Klagenfurt era assolada por enchentes causadas por um Lindworm. Segundo a lenda, um Duque ofereceu uma grande recompensa a quem abatesse a criatura, então um grupo de jovens amarrou um touro as margens do rio, e quando o Lindworm emergiu e abocanhou a presa, foi fisgado e abatido como um enorme peixe.

   Existem inúmeras outras lendas sobre essa criatura, citei aqui apenas as mais importantes. Além das lendas, uma das coisas que mais impulsionou a crença nos Lindworms ocorreu no ano de 1355, na cidade de Klagenfurt, Alemanha, quando foi encontrado um crânio pré-histórico de rinoceronte peludo, em uma caverna da região. O crânio abalou a população local, pois todos acreditavam ser o crânio de um Lindworm.
   Mas a história não acaba aí, o mito dos Lindworm se manteve vivo na Suécia até o século XIX, quando o folclorista sueco Gunnar Olof Hyltén-Cavallius, começou a reunir relatos de várias pessoas que teriam supostamente encontrado com essas criaturas. Estima-se que Gunnar tenha reunido cerca de cinquenta relatos de testemunhas visuais. Suas pesquisas foram até o ano de 1884, quando ele ofereceu uma recompensa a qualquer um que lhe trouxesse um espécime vivo ou morto. Gunnar faleceu em julho de 1889, e, em suas últimos cinco anos de vida, ninguém lhe trouxe qualquer prova da existência dos Lindworm, o que resultou na desconstrução do mito.
Gunnar Olof Hyltén-Cavallius

Conclusão

   Apesar de o Lindworm estar presente nos enredos que enraízam a mitologia nórdica, existe a possibilidade de que a criatura só tenha sido inserida na mitologia à partir do século XIII. Os primeiros registros escritos sobre essa criatura estão nas Eddas em proza e em verso, onde a criatura, no caso Nidhogg, é descrita como um ser que representa o balanço entre o bem e o mal, e que deve permanecer nesse papel até a chegada de Ragnarok (O Crepúsculo dos Deuses). Mas isso é mera especulação, talvez o mito seja sim mais antigo e apenas tenha sido modificado no século XIII, por meio de influências cristãs.
   Os Lindworms são representados na cultura popular desde os tempos mais antigos, em poemas épicos, canções e contos. A criatura também possuiu uma forte presença em brasões de armas, pois é uma criatura de muito valor para a Heráldica (arte de interpretação dos brasões de armas). Muitas cidades ainda utilizam o Lindworm em seus brasões de armas, tais como Klagenfurt (Alemanha), Wurmannsquick (Baviera) e Seljord (Noruega).
Brasão de armas de Klagenfurt, Alemanha.

   Existem inúmeras representações modernas dos Lindworm que podem ser encontradas em jogos, livros, filmes e animações. A criatura tem representações muito fortes em jogos como Dragon's Dogma, e também em Pokemon, onde Rayquaza, um pokemon do tipo dragão, contem semelhanças com os Lindworm.
Foto divulgação do jogo Dragon's Dogma Online

Por hoje é isso, pessoal! Espero que vocês tenham gostado. Se falei alguma besteira, por favor, me corrijam. Deixe sua opinião aí nos comentários e compartilhe essa matéria com seus amigos!

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Este artigo é protegido pela lei de Direitos Autorais N° 9610 de 19 de fevereiro de 1998.

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